sábado, 7 de novembro de 2009

ENTRE LOUVORES E AMORES, CAP.1

I

Naquele primeiro dia de aula, Lucas acordou atrasado. Era uma segunda-feira, a segunda semana de fevereiro. O carnaval já tinha passado e a vida parecia voltar ao normal. Em se tratando de São Paulo, foi só nos dias de Carnaval que a cidade deu uma breve aliviada. Lucas acorda, toma banho, o café correndo, pega o carro e corre para a faculdade. Mesmo apressado, consegue estacionar o carro em uma vaga, na apertada garagem da faculdade. Sobe as escadas com pressa e, faltando alguns metros para chegar a porta da sala de aula, Lucas pára, dá uma respirada e entra na sala. Ali, o professor da cadeira de Direito Penal começa uma conversa com o restante da turma. Ali alguns alunos novos entravam naquele grupo, pois estudavam em outros horários da faculdade e haviam optado pelo turno matutino.

O professor Augusto colocou todos os anos em um círculo. Ali passavam a se apresentar, de forma espontânea, quem assim o desejasse. Lucas então se apresentou e reencontrou Bernardo, Alessando, Paulo e Rafael, seus colegas desde o início do curso. Conversou com Alessandro e comentou com ele sobre o futebol que foram em São Bernardo do Campo. Alessandro disse que não pôde ficar ao churrasco depois do futebol porque tinha um compromisso na igreja onde congrega, pois iria preparar a mensagem para dar à comunidade àquela noite. Lucas também disse que saiu mais cedo, logo após o término da partida porque tinha que arrumar os instrumentos musicais para o culto da noite, também na igreja onde congrega. Paulo e Rafael também participaram da conversa, falando de um show gospel que teria em uma comunidade evangélica em duas semanas.

Professor Augusto então chamou a atenção dos jovens para continuar ouvindo as apresentações. Foi então que uma moça tímida e ao mesmo tempo tranquila se apresentou, era Amanda:

- Bom dia, me chamo Amanda Nogueira, tenho 22 anos, venho da turma noturna. Passei para o dia porque arrumei um emprego como secretária em um escritório de advocacia próximo da Avenida Brigadeiro Luís Antônio. Estou muito satisfeita com o emprego no escritório e espero aprender mais sobre Direito Penal. Obrigado.

Professor Augusto agradece a fala de Amanda e então prossegue a aula. Vem o intervalo e Lucas sai com os três colegas para a lanchonete. Tomam um café e continuam a conversar sobre os eventos, as músicas gospel, os jogos de futebol e lembrar as férias as quais foram boas. Lucas não viajou para longe, em suas férias que teve no banco, apenas 15 dias, deixando o restante para o inverno, foi para o Guarujá. Lucas trabalhava no departamento jurídico de um banco. Estava quase efetivo. Entrou na instituição como office-boy. Quis trabalhar para ter o seu dinheiro, comprar instrumentos musicais e também passear com amigos, acampar em praias, passar o dia em parques aquáticos e em cascatas no interior paulista. Lucas havia comprado, há poucos meses, seu primeiro carro, um Ford Fiesta. Usado, ano 1999, mas era seu primeiro carro. Trabalhava e deu boa parte do valor do automóvel à vista. O restante, teve a ajuda de seu irmão, Pedro.

Voltam para a sala de aula e todos continuam a assistir as cadeiras, aos turnos. Alguns reencontros acontecem. A turma de Lucas já vem em maioria unida desde os primeiros semestres do curso de Direito. Alguns alunos novos entravam na turma, como era o caso de Amanda Nogueira. Amanda não conhecia ninguém naquele horário. Participou das atividades e conversou com algumas colegas de sala.

A manhã passou, e era chegada a hora de ir para o almoço. Almoço para quem tinha tempo de comer com calma. Calma na estressante e pulsante São Paulo é algo meio raro de achar. Lucas vai até o estacionamento da faculdade, pega o carro e dá uma carona a Rafael, que também trabalha perto da Avenida Paulista. Trânsito pesado e tumultuado para o horário do meio-dia. Os engarrafamentos medonhos de São Paulo já prevêem que Lucas vai chegar atrasado ao trabalho. Da faculdade, que fica no Paraíso, não é tão longe da região da Paulista, onde também Lucas trabalha. Mas com o trânsito engarrafado que estava naquele momento tumultuava, Lucas aproveitou e lanchou antes de ir para o trabalho.

Assim que sai da faculdade, vê Amanda sair a pé, segurando a bolsa e os cadernos e livros. Chega à beira do meio fio da rua e pede para Rafael abrir o vidro do carro. Lucas pergunta:

- Oi, você é Amanda não é? Você vai para que lado. Eu estou indo para o lado da Avenida Paulista. Você quer uma carona?

Amanda, educadamente, olha para o rapaz e responde:

- Você é Lucas, não? Lucas, muito obrigado, mas vou pegar o metrô, que está aqui pertinho e vou. A Estação Paraíso tá aqui pertinho e aí é um pulo até onde vou. Obrigado pela carona.

Lucas responde:

- Ah, tudo bem. Hoje não deu, mas outra hora, quem sabe você aceita a carona. Tudo bem, um bom trabalho pra você.


Lucas segue e Amanda vai caminhando até o metrô. De lá, pega um trem não tão lotado e vai para a região da Brigadeiro. Desce em uma das estações da Avenida Paulista e vai para o escritório. A tarde ali prometia, e muito. Trabalho no escritório não faltava. Eram dez advogados, todos trabalhavam com as mais variadas áreas do Direito. Amanda e Lúcia Helena, outra colega de trabalho se dividiam em dez, vinte ou trinta para atender as agendas daquele monte de advogados. E olha que um dia de expediente era pouco. Lúcia Helena, colega de Amanda, era uma gaúcha muito trabalhadora. Cursou Secretariado Executivo Bilíngue. Havia chegado há menos de cinco anos em São Paulo. Trabalhava muito. Era muito correta, competente e séria, procurava ensinar tudo para Amanda. O sonho de Lúcia Helena era ir embora morar nos Estados Unidos. Havia saído do interior gaúcho para estudar em Porto Alegre. Veio para a paulicéia tentar novas oportunidades. Amanda entrou no escritório como auxiliar de secretária e foi promovida a uma secretária inicial, claro, subordinada primeiramente a Lúcia Helena e também aos advogados. Mas prestava contas de tudo para Lúcia Helena, que era sua chefe direta.

Lucas era um rapaz competente, simpático mas sério ao mesmo tempo. Nascido em Florianópolis, cidade onde foi criado até os 16 anos, veio para São Paulo com parte da família. Seu pai, o pastor João Souza, nascido no interior baiano, se ordenou pastor em Goiânia. Em Goiânia, conheceu a ainda jovem Rosana, menina órfã que veio de Minas Gerais, trazida pela sinistra dona Rosinha. Depois de um casamento arranjado entre Rosana e João Souza, a família ficou mais uns dois anos em Goiânia e se mudou para Florianópolis. Tiveram quatro filhos, todos homens: Alexandre, Rafael, Pedro e Lucas. Alexandre nasceu em Goiânia, assim como Rafael, Pedro e Lucas nasceram na capital de Santa Catarina. A mudança para São Paulo foi tomada de forma rápida e também misteriosa até um certo ponto. A família se mudou para São Paulo, onde foi morar no bairro da Moóca. No mesmo bairro, alugaram um amplo salão e abriram a Igreja do Fogo Santo, a qual pastor João Souza era pastor.

Amanda nasceu no Rio de Janeiro, filha de servidores públicos que vieram para São Paulo há mais de 20 anos, já se acostumaram a paulicéia. Não perderam a carioquice do sotaque, mas já eram paulistas na agitação e no modo de trabalhar. Aposentados, resolveram ficar em São Paulo porque acreditaram ser um local com mais trabalho e oportunidades para as filhas trabalharem. Amanda era irmã de Sílvia e da pequena Maria e toda a família, junto com a vovó Alba, mãe de Roberto Nogueira, pai de Amanda, moravam no Itaim Bibi, próximos da Igreja do Avivamento, onde congregavam.

Mas depois de tudo isso, a vida seguia com normalidade. Amanda trabalha, Lucas também trabalha, não só eles, mas paulistas, brasileiros e estrangeiros que estão na megalópole também trabalham. E muito, jornadas árduas, cheias de horários, reuniões e responsabilidades. É o Brasil que pulsa, 24 horas sem parar.


NO PRÓXIMO CAPÍTULO: UM OI E UM PAPO...

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