domingo, 22 de novembro de 2009

ENTRE LOUVORES E AMORES, CAP.6

O show musical começa. A Igreja do Fogo Santo está lotada. As câmeras filmam tudo, uma boa central de TV foi montada no andar superior do templo. Ali, uma equipe de uma produtora contratada para dirigir o lançamento da Campanha do Tudo ou Nada corre de um lado para o outro. Patrick canta, as pétalas caem por cima dos fiéis. Alguns levantam um pôster com a imagem do cantor e também de uma tocha, o símbolo da igreja. Muitos choros, emoções, gritos de Aleluia e por aí vai o show. Rafael sai do palco e vai até o camarim, para ver se sua mãe está pronta para entrar, pois logo após a apresentação de Patrick e banda, ela será a próxima a trazer uma palavra ao público que ali lota o espaço, um grande e imenso galpão, comprado pela congregação.

- Mamãe, você está pronta. É a próxima estrela da noite a entrar.
- Não sou estrela, Rafael. Você sabe que não sou artista. Sou uma serva, uma mulher de Deus que vai, verdadeiramente, trazer uma palavra a este povo.
- Verdadeira? Então você está me chamando de mentiroso...
- Rafael. São sou eu que digo que você é mentiroso. É a sua consciência que grita para dentro de você que você está enganando a tudo e a todos. Rafael, meu filho, pare de brincar com coisas santas. Meu filho, você está levando a sua vida à ruína. Meu filho, você sabe... o salário do pecado é a morte.
- Cala a boca. Para de me dar chá de moral. Eu sou um empresário. Eu sou um vencedor. Não me importa o que você e uma meia dúzia de idiotas pensam. O que me importa, na verdade é o que eu penso. Este sucesso todo é feito todo do meu jeito. Eu sei o que estou fazendo. Você não sabe. Você é uma fanática. Uma sonhadora, uma mulher sem um pingo de senso de nada. Não é companheira do papai, não ajudou a construir isto aqui e fica só posando de santinha.
- Eu não construi isso aqui porque isso é uma mentira. É a mentira que seu pai quer empurrar para todos. Jesus não é mentira, mas esta estrutura é. E você sabe disso, Rafael.
- Chega, chega Rosana. Chega disto.
- Você me chama pelo meu nome para me machucar. Mas você não vai me machucar. Você não machuca ninguém mais. Só a você mesmo, meu filho.

Na casa dos Nogueira, Amanda conversa com Pachanca. Pachanca liga para saber se Sílvia já saiu para o compromisso que as duas haviam marcado:

- Pachanca, Sílvia saiu. Não me disse onde foi.
- É claro que ela não ia te dizer onde foi. Estou ligando para saber se faz muito ou pouco tempo que tua irmã saiu.
- Faz um tempo sim. Pachanca, posso te fazer uma pergunta?
- Pode.
- Onde você e Sílvia andam?
- Nós... bem, Sílvia vem até aqui para se encontrar com um cara que tá saindo.
- Quem é este cara, você pode me falar, Pachanca?
- Eu posso. Olha, ela está saindo com o Aurélio. O Aurélio é filho do dono de um conceituado cartório daqui de São Bernardo do Campo. Você conhece o Cartório da Matriz? Pois é. Ela tá saindo com o filho do senhor Policarpo, o dono do Cartório. Olha, o coroa é o maior gato. Tá enxuto a beça.
- Pachanca... é homem casado?
- Casado? Claro, é pai de filhos, já tem até netos. O velho pai dele já é bisavô.
- Pachanca... você não presta. Você apóia esta sujeira que a Sílvia está fazendo?
- Eu não presto mesmo. Aliás, a tua irmã só se envolve com homem casado. Tua irmã é sortuda, viu. Ela só consegue homens com dinheiro, homens com status. E ela é bonita, se veste bem, se arruma. Tem um papo e um bom gosto. Não sabia que a Sílvia era tão boa na arte da conquista. E olha que ela enrola todo mundo. Inclusive vocês aí da casa dela.
- Pachanca, só Jesus para perdoá-las. Só ele para perdoar a tua vida. Pachanca, o que vocês estão fazendo é algo imperdoável. É prostituição. Vocês andam com homens casados, gastam o dinheiro deles. Dinheiro que eles deveriam gastar com as suas famílias. Buscam o prazer de qualquer jeito. É uma tristeza para mim ser irmã da Sílvia. Não sei porquê Sílvia age assim. Sílvia é muito má mesmo. Mas eu creio que um dia ela vai ser liberta de tudo isto. De toda esta maldade.
- Ah,ah,ah. Como você é boba, Amanda. Bem que a tua irmã fala que aí na casa de vocês são todos uns babacas mesmo.
- Você respeite a minha famíia, Pachanca!
- Olha, Amanda. Nem sei porque eu fiquei conversando com você. Só liguei para saber se Sílvia saiu, ou não. Amanda, passe bem e tenha uma boa noite.

Pachanca desliga o telefone. Amanda volta a ver o filme. Maria vem até a irmã e pergunta:

- Mandinha, o que houve? Quem era?
- Era Pachanca, amiga da Sílvia.
- O que ela queria?
- Ela queria saber se a Sílvia já tinha saído.
- Mandinha, eu tenho medo da Sílvia. Ela é má comigo.
- Não precisa ter medo não. Ela está sim sofrendo. Mas Mariazinha, vamos nos unir e pedir a Jesus, vamos orar e pedir ao Senhor para que cure ela. Que abençõe o coração dela, que faça ela mudar e ser boazinha.
- Será que ela um dia vai mudar?
- Vai sim, Mariazinha. Ela vai mudar e eu creio nesta promessa. Mariazinha, não tá na hora de você dormir?
- A mamãe, o papai e a vovó.. eles vão demorar?
- Acho que não. Daqui há pouco eles estarão em casa.
- Tá bom, Mandinha, vou dormir, beijo e boa noite.
- Meu bem, vá com Jesus. Escove os dentes, faça a tua oração e vá dormir.
- Amém.

Maria sobre ao quarto. Coloca o pijama, vai ao banheiro, lava o rosto, os dentes, tira as presilhas do cabelo e vai para o quarto. Se prosta de joelhos no chão e conversa com Jesus:

- Papai do Céu. Sei que o Senhor me ouve. Sei que o Senhor é bonzinho. Senhor Jesus, cuida da minha mãe, do meu pai, da minha vovó Alba, da minha irmã Amanda e faz a Sílvia mudar o seu coração. Papai do Céu, ela é tão bonita. Mas é malvada com a gente. Papai do Céu. Abençõa a minha noite, cuida do meu soninho e da minha família. Amém.

Amanda termina de ver o filme e vai para o quarto também dormir. Antes de subir, seus pais, acompanhados de sua avó chegam em casa. Ela os cumprimenta. Vovó Alba fala com Amanda:

- Minha querida, você está até agora acordada?
- Sim vovó. Estava vendo um filme, lendo um pouco.
- Você não saiu hoje?
- Não. Amanhã eu vou almoçar com a Lúcia e com o Felipe. Mas hoje eu não sai não. Quis ficar em casa. Tomei um banho, coloquei uma roupa quente. Está um pouco frio lá fora.
- É verdade, minha amadinha. Está frio mesmo.
- Mamãe, tinha muita coisa boa no supermercado hoje?
- Tinha sim, minha filha. Ah, comprei aquelas nectarinas que você gosta. Comprei também uma colônia bem cheirosa para a Mariazinha e também aquele leite desnatado que a Sílvia gosta.. ah, ela saiu de novo, não foi minha filha?
- Ela sai todos os dias, mamãe. Aquela amiga dela, Pachanca, ligou. Elas iriam para São Bernardo do Campo.
- Meu Jesus. Mas a Sílvia não precisava sair tão longe. Aqui no Itaim Bibi tem restaurantes ótimos, bons bares. Até que ela fosse a Vila Madalena, tudo bem. Mas ela foi para São Bernardo.. é distante e fico com medo que ela beba, bata o carro.
- Mamãe, eu sei. Pachanca contou que ela está...
- O quê?
- Namorando um homem casado.
- Ah, isso não é novidade. Eu já sabia desta história. É com o filho do dono de um cartório.
- Mamãe, como você soube?
- Soube porque um dia destes ela esqueceu o celular aqui na sala. O celular tocou e eu atendi. Era o Aurélio, este homem que ela está saindo. Eu conversei um pouco com ele. E ele me disse que está saindo com a tua irmã e que está se separando da esposa.
- Mamãe, e você não falou nada a ela?
- Minha filha... e você acha que a Sílvia ouve alguém. Ela não ouve ninguém. É impulsiva, revoltada, agressiva. Não sei onde ela tira tanta raiva, tanta agressão. Ela é meu motivo constante de oração. Além de vocês, é claro.
- Mamãe, o que a gente pode fazer para tentar parar estas coisas que ela faz?
- Orar, minha filha, só orar.

Vovó Alba participa do assunto:

- Marília, o que faltou foram umas chineladas nesta menina. Ela sempre foi impulsiva, impertinente. Desde criança sempre foi uma menina difícil de se entender. Sempre foi revoltada, agressiva. Até que agora está um pouco menos desaforada. Mas você se lembra há uns dois anos atrás. Ela se botou para cima do pai dela.
- Vovó eu lembro sim. Roberto ficou até doente. Sílvia é a filha mais velha. Ele se esforçou tanto para prepará-la para a vida. E ela largou tudo, largou o emprego, só faz bicos e vive assim, correndo atrás de homens e mais homens. Eu sei que Jesus vai curá-la. Mas primeiro ela tem que quebrar a cara mesmo. Eu estou cansada de tanta briga. Roberto ainda briga e chama a atenção dela, mas eu estou cansada.

Roberto desce as escadas e ouve a conversa das mulheres:

- Marília, mamãe e Amanda. Eu não vou mais me desgastar em bater boca com a Sílvia. Realmente, pastor Cláudio me aconselhou a colocar em oração e pedir realmente a Deus para que proteja a minha filha. Para que a perdõe. Ela está louca mesmo, possuída, sei lá. Não sei como dizer o que acontece com ela. Mas creio que Deus fará o melhor. Só vou controlar para que ela não agrida e não ofenda ninguém aqui dentro de casa. É só isso. Boa noite. Vou dormir.

Todas se despedem de Roberto e, em seguida, sobem aos quartos para dormir.

Na Igreja do Fogo Santo, é hora de Rosana subir ao palco. Ela sobe ao palco e leva uma palavra de fé a todos os presentes. Fala sobre o livro e sobre a história de Rute. Uma mulher de fé a qual serviu e acreditou em Deus por toda a sua vida. Que deixou uma terra, deixou sua terra e foi para outra. Seu marido e seus filhos morreram em uma batalha e Rute foi fiel. Jamais se revoltou. Sua nora, Noemi, antes de casar com Moabe, a seguiu e as duas fizeram uma das profissões de fé mais verdadeiras e mais belas da história.

As palavras da pastora Rosana foram muito aplaudidas. E a oração dela abençôou a todos os presentes que estavam. A Igreja do Fogo Santo se emocionou com as palavras daquela mulher. Logo em seguida, foi a vez do pastor João subir e pregar a todos. O tema foi a Prosperidade. Em seguida, ele então conclamou:

- Irmãos, esta é a Campanha do Tudo ou Nada. Tudo é você depositar aqui a sua fé. O seu depósito, não importa a quantia que foi. Não interessa o valor a qual seja. Interessa é que neste pouco você vai colocar aqui a sua fé. Colocar o seu pedido. Você colocaa um dinheiro e recebe um girassol. Todos os dias, você vai sim olhar para este girassol, tirar as folhas do girassol. Cada folha que você tirar, vai ser sim um pouco da realização do seu desejo. Vai ser a sua vitória. É bênção, é Fogo Santoooo!!!!!

Os gritos e aplausos seguem. Obreiros correm para passar as bolsas com fundo para os fiéis colocarem dinheiro e pedidos. Nisto, Úrsula sai do meio do templo, conforme havia sido combinado no ensaio com Marcão e com o pastor João e vai para o púlpito. Pega o microfone das mãos do pastor João e começa a gritar:

- Eu estou curada. Eu estava com depressão, doente. Achava que iria morrer. Eu toquei no girassol e ali eu fui curada. Foi Deus quem me curou, meu Deus, meu Deus....

- E todos começam a aplaudir, a bater palmas. Uns choram e outros cantam louvores. Patrick e banda voltam ao palco e ali começam a cantar mais músicas e músicas. Assim, o culto, que durou mais de quatro horas, termina. O público começa a deixar o templo, começa a chover em São Paulo. Mesmo assim, as pessoas começam a sair. Alguns são entrevistados por uma equipe de televisão que estava lá para filmar tudo. Dona Juju vai direto ao repórter e começa a falar:

- Eu aqui encontrei a igreja certa. Aqui eu conheci o poder do Deus vivo na minha vida. Eu antes era de uma igreja aí, onde nada acontecia. Eu vim pra cá, estou fazendo a campanha e agora eu sei que vou realizar o desejo de comprar uma casa na praia. Em Mongaguá, do jeito que eu sonho, com três quartos, suíte, dois banheiros, garagem para três carros, copa, cozinha. Ah, eu estou levando este girassol e cada folha dele é uma peça da minha casa de praia.

Seu Pantaleão, obreiro antigo da Igreja do Fogo Santo, chora em frente às câmeras:

- Eu aqui eu fui acolhido.Aqui eu sou abençoado. A minha vida mudou e eu aqui aprendi a conhecer um Deus vivo. Eu amo esta igreja e o pastor João Souza é um homem abençoado.

As câmeras de TV filmam tudo e, de repente, o repórter se aproxima de uma moça, acompanhada por seu pai. Era Ivana e seu pai, Catarino:

- Estou aqui com meu pai. Eu confio nos milagres. Confio em Jesus. Confio na verdade que está na sua Palavra.

Seu Catarino também responde:

- Eu confio nos propósitos do mestre. Que cada um receba o que busca nesta campanha, mas mais do que isto, que encontre a fé em Deus.

Terminado o evento, todos são chamados para os fundos do palco. Ali o pastor João Souza manda todos contarem. O montante em dinheiro, naquela noite, foi de 800 mil reais. Só em uma noite. Para eles, foi uma boa quantia, mas não o sucesso que esperavam. João então comenta com Rafael sobre o evento:

- O que você achou, meu filho?
- Amanhã tem que dar mais gente aqui, papai.
- Mas, meu filho, a igreja estava lotada.
- Papai, você é um sem noção. Mas depois eu falo contigo em casa.

Percebendo o que acontecia, Rosana veio até os dois e disse:

- Parabéns a vocês, continuam a colher dinheiro, mas só dinheiro mesmo.

Rafael responde:

- E você não cala a boca. Mamãe, faça a tua parte. Aliás, até fez direitinho hoje. Até emocionou as pessoas. Mas rende pouco dinheiro. Dá pouco lucro. A senhora é da turma dos certinhos. A senhora rende pouco pra mim. Eu acho que vou lhe substituir daqui e promover a Ùrsula para começar a falar. Ela é melhor atriz do que a senhora.

Nisso, Rosana se irrita e dá uma bofetada em Rafael. Ele responde:

- Este tapa não vai ficar assim não, dona Rosana. Um dia eu acabo com você. Você vai ter o troco. Você vai ver o que eu vou fazer contigo. Isso se o papai não se envolver, é claro.

Pastor Souza vê a cena e repreende os dois:

- Vocês querem botar tudo a perder. Imagina se os obreiros vêem tudo isto. Que vergonha. Vai acabar com a minha carreira. Rosana, você não tinha o direito de bater na cara do Rafael. O que ele disse é verdade. Você é muito morna. Hoje não é um evento para ser morno. É para ser quente.
- Não admito que você, João, me compare com esta atriz, com esta tal de Úrsula, que com certeza vem daquele cabaré que você sustenta. Mais vergonha do que é este show que você fez e promoveu hoje. Olha, João, eu peço para que Deus realmente faça justiça a isto que vocês estão fazendo. Enganando milhares de pessoas. Não respeitando nada, absolutamente nada mesmo. João, eu estou cansada de tanta mentira. Quando é que você vai me dar a separação?
- Eu, te dar o dinheiro, dividir os bens, nunca. Não vou fazer isto de forma nenhuma. Problema é todo seu. Vá trabalhar, vá lavar chão. Volte para Minas Gerais, vá para onde quiser, mas vá com a roupa do corpo. Quem sabe você vai para a Argentina atrás do seu querido filhinho Alexandre.
- Acho que se eu fosse para a Argentina, com certeza, estaria mais feliz do que vivendo ao teu lado. Vivendo ao lado de um bandido, um criminoso. Estelionatário como você.

João parte para bater em Rosana. Nisso, Ùrsula se aproxima e o segura:

- João, calma. Não vá bater na sua mulher aqui na frente de todo mundo. Olha só, estão todos se arrumando para sair. Não quer dar uma chegada na boate. Hoje tem champagne de graça até as duas da madrugada.

- Ùrsula, saia daqui. Vá embora, este tipo de assunto não é para conversarmos aqui.
- Conversar escondido? Para quê, João! Todo mundo sabe que você tem um caso com a dona da boate, todo mundo sabe que esta menina dança lá. João, você acha que engana a quem? A mim, não.
- Cala a boca, Rosana. Cala a boca e vá embora você também.
- Eu vou sim, João. Vou com o Lucas. Ele está indo para o estacionamento. Adeus.

João Souza olha para o dinheiro, olha para os girassóis e dá risada. Dá altas gargalhadas. Rafael se aproxima, se deita no chão, sobre o dinheiro e ali rola em cima do dinheiro. Ri e brinca como se fosse uma criança.

E mais emoções prometem.
Entre louvores e amores.

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