quinta-feira, 12 de novembro de 2009

ENTRE LOUVORES E AMORES, CAP.2

II

Tipicamente paulistano, o dia amanhece cinzento. Uma mistura de poluição do ar com a neblina que anunciava a chegada de um inverno úmido e frio. A garoa básica, um vento muito suave, mas frio, já mostrava o que poderia vir. Mas nada disso abalava o dia de Lucas. Um rapaz tranquilo, calmo, mas retraído. Mais um dia começava e ele se preparava para faculdade, trabalho e talvez um ensaio musical no início da noite. Tudo programado, esquematizado e controlado. O que saísse fora de seu controle deixaria o dia difícil.

Mesmo assim, ele não perdia a calma. Acordou cedo, tomou banho, colocou a calça social azul marinho, camisa xadrez em azul e branco e pegou um blazer azul marinho também, combinando com a calça. Sapatos pretos, previamente engraxados, assim saía Lucas para mais um dia de trabalho. Como acordou mais cedo, não tomou o café com a família. Saiu porque sabia que o trânsito naquele dia seria mais difícil que o normal.

Assim que chega à faculdade, satisfeito porque não pegou engarrafamentos tão extensos no trajeto, Lucas estaciona o carro, pega sua mochila e sobe para o pavilhão. Chega na sala, organiza seu material e cumprimenta os colegas que estavam próximos. Viu que Amanda estava perto e também a cumprimenta. Amanda a cumprimentou também, de forma calma, tranquila, mas tímida. O que era o seu normal.

Vem o momento do intervalo e Lucas vai tomar um café na cantina. Ele convida Amanda para ir tomar um café junto com ele. Ela, prontamente aceita o convite e vai. Na cantina, começa uma conversa:

- Amanda, você tá gostando das cadeiras este semestre?

- Estou sim, Lucas. O curso parece estar andando mais rápido. O semestre passado passou tão rápido e nem deu para sentir. Você não achou?

- Claro que sim. Aliás, tudo está passando rápido. Tudo parece cada vez ficar mais rápido. Mas Amanda, o que você tem feito nos finais de semana?

- Lucas, eu fico em casa. Trabalho muito durante a semana. Fico em casa, descanso, leio e vou à igreja, aos domingos, pela manhã e a noite.

- Você também é evangélica?

- Eu sou sim. Eu frequento a Igreja do Avivamento. Fica próxima da minha casa, no Itaim Bibi. E você, também é evangélico.

- Sou. Eu sou membro da Igreja do Fogo Santo, que fica na Moóca, onde moro.

- Você mora na Moóca. Tenho uma tia que mora na Moóca. Eu vou na casa dela de vez em quando. Aliás, amanhã acho que vou lá depois do trabalho. Vou tomar um café com ela, conversar. É uma amiga muito querida. É irmã de minha mãe.

- Que bom, Amanda. Uma hora vou te convidar para ir na nossa igreja. Lá é muito bom. Tenho certeza que você vai gostar. Amanda, vamos voltar para a aula, já bateu o sinal.

- Vamos sim, Lucas. Claro que vou sim. E também vou te convidar para ir na minha igreja, a Igreja do Avivamento. Meu pastor, o pastor Cláudio é um homem abençoado e a igreja é muito aconchegante.

Lucas e Amanda voltam para a sala de aula e continuam por mais três períodos até o final da manhã. Chega a hora do almoço e eles saem. Lucas pergunta a Amanda:

- Você aceita almoçar comigo um dia destes?

- Claro, Lucas. Vamos combinar sim. Na sexta-feira pode ser, é que na sexta-feira entro um pouco mais tarde no trabalho e a gente não tem o último período. Pode ser?

- Amanda,por mim, tudo bem. Na sexta-feira, depois da penúltima aula a gente sai.

- Fechado, Lucas.

Os dois se despedem com um beijo educado no rosto e cada um vai para o seu lado. Lucas pega o carro e vai para o trabalho, almoça em um restaurante pequeno perto do banco onde trabalha. Amanda vai para o metrô, pega o trem e também vai para o escritório de advocacia.

Passa o almoço e Amanda chega ao escritório. Lúcia Helena a cumprimenta e passa algumas providências que os advogados deixaram para ela cumprir. Mas antes de conversar, Lúcia Helena convida Amanda para tomarem um cafezinho na cozinha. As duas vão e trocam algumas ideias.

- Amanda, eu estou tão preocupada. O Raul nunca é de faltar a um compromisso. Marquei com ele uma saída a um barzinho ontem depois das sete da noite e ele não apareceu no bar. Liguei pro celular dele e nada. Mandei e-mail, scrap, deixei recado no Twitter dele e nada... o que será que aconteceu?

- Você tem certeza que ele não te respondeu? Você viu o teu Orkut, o teu Twitter, tem certeza que ele não te respondeu. De repente ele teve alguma reunião de última hora. Ficou preso no trânsito. Mas fica calma porque nada de ruim houve.

- Ah, Amanda. Eu sempre enrolada com os meus casinhos. E tu, amiga, tá saindo com quem. Tu teve saindo com o Valter, não deu nada?

- Não, Lúcia. O Valter é um rapaz muito legal, mas não deu certo. Ele acabou ficando na amizade. E nós achamos que era melhor assim. Fiquei com medo de me envolver com o Valter. Ele já foi casado, não quer casar, não quer um relacionamento sério. Sou uma moça solteira. Eu quero é namorar, ficar noiva e casar. E tudo com a aprovação de Jesus e também de meus pais.

- Amanda, eu vou na tua igreja neste final de semana. Posso ir contigo?

- Claro, Lúcia. Você sabe que te convido há bastante tempo. Lúcia, o café tá ótimo hoje, mas vamos trabalhar?

- Claro, futura chefinha. Vamos lá.

A tarde passa, mais um dia termina e todos voltam para casa. Lucas chega, cumprimenta a todos e vai até a cozinha de casa tomar um café. Lá, encontra seu pai. Lucas o cumprimenta:

- Oi pai, boa noite.

- Oi, Lucas. Como foi o seu dia?

- Foi bom. Aula, trabalho. Agora vou me preparar para ir à igreja, não tem ensaio hoje? O Patrick tá sabendo do ensaio de hoje?

- Eu acho que sabe. Não falei com ele hoje.

- Pai, você tá com uma cara tão fechada. Algum problema?

- Nenhum problema. Eu não tenho problemas, eu tenho é soluções. Além de dinheiro no bolso é claro. Dinheiro pra sustentar esta casa, tua mãe, vocês. Dinheiro para não faltar nada. Você não acha, filho?

- Pai, não precisa ser irônico. Não há necessidade disto.

- Não sei qual é a sua em perguntar sobre minha cara. Como se você se importasse muito comigo...

- Pai, não vamos começar. Não quero brigar com o senhor.

- Nem eu quero. Não quero é nada. Tenho muito o que fazer. Com licença, Lucas.

- Toda a licença, pai.

A conversa vai fria. Rosana vê João sair da cozinha, pegar o casaco e sair em direção à garagem. Ele iria sair, mas ninguém perguntou mais nada. Lucas vem para a sala, com os olhos marejados. Olha para a mãe e diz:

- Mãe, eu não entendo meu pai. Não entendo a razão de sua agressão. De suas ironias. Não sei porque ele age assim. Parece que está sempre culpando a todos. Aliás, ele age assim comigo, com a senhora. Com o Alexandre, nem se fale. Bem que ele fez em ir embora de casa. Tá longe mas tá bem.
- Não tá bem não meu filho. Ele quer voltar. Mas entendo. Ele preferiu ir embora. Teu pai é uma pessoa a qual ninguém entende. Teu pai não é um homem pacífico. Ele não vive em paz. Mostra para os outros que vive. Lucas, meu filho, deixa isso pra lá. Deixe ele para lá. Uma hora ele se acha na vida.

- Mamãe, você é muito otimista. Eu não tenho este otimismo todo. Não entendo porquê o Rafael é o queridinho dele. Parece que ele ama só o Rafael. E nós, onde nós ficamos nesta história. Ele é seco e frio com todos nós. Menos com o Rafael

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