terça-feira, 10 de maio de 2011

O AMARGO SABOR DA APOSENTADORIA, COMENTÁRIO

O AMARGO SABOR DA APOSENTADORIA

Uma vida dedicada ao trabalho, ao cumprimento de horários, tarefas, resultados. Chega o momento de se aposentar. O trabalhador nosso de cada dia, o que tem carteira assinada na maioria das vezes, desconta percentuais para a Previdência Social. Contribui em cima de três, quatro, cinco salários mínimos. No final, acaba recebendo sobre dois, um salário. Na última edição do Jornal do Aposentado, publicação impressa a qual edito e que circula aqui na Grande Florianópolis, contei a história de seu Ari. Barbeiro, trabalha em um pequeno salão no centro da capital catarinense. O manuseio com pentes e tesouras começou aos 14 anos. Seu Ari já cortou o cabelo e fez a barba de desembargadores, deputados e outras personalidades da cidade. Hoje, aos 85 anos, não consegue parar de trabalhar. Seu Ari contribuiu com cinco salários mínimos, hoje recebe um salário mínimo e meio. Ou seja, segundo ele, recebe dos cofres da Previdência Social, a qual ajudou a construir em 71 anos de trabalho, apenas R$ 530. Seu Ari sai cedo de casa, pega chuva e sol, inverno e verão. Graças a Deus, ainda tem saúde para trabalhar. Mora em casa própria e conta com o apoio de sua esposa, também beneficiária do INSS para dividir os parcos recursos. Fazem uma ginástica para manter os custos de R$ 1.500 de orçamento doméstico. Ele já é aposentado e poderia ficar em casa, curtindo o doce sabor da aposentadoria. Doce, para quem?

É amargo mesmo. O caso que contei, do seu Ari, é visível em milhares de famílias brasileiras. A Previdência Social é mal administrada. Existe déficit porque o Governo não controla com competência os impostos que pagamos. Pagamos impostos altos, contribuímos uma vida inteira e, quando chega à velhice, recebemos esmolas de volta. E a Previdência nos devolve pouco porque seus gestores dizem que o caixa só suporta pagar desta forma. Como alguém que contribui com cinco salários mínimos recebe apenas um salário e meio de benefício? Gostaríamos de uma explicação.

O Governo trava uma negociação com a Força Sindical para reajustar acima de 6% para quem ganha mais de um salário mínimo a partir de janeiro do ano que vem. Aponta que a Previdência só poderia suportar até esse montante a ser reajustado. Associações de apoio a aposentados e pensionistas não concordam com esse valor e não participam da negociação. Enquanto isso, trabalhadores como o seu Ari fazem as contas, e vêem que o esperado reajuste será menor do que esperam. O que falo é sobre esse amargo sabor da aposentadoria.

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