sábado, 14 de maio de 2011

O FIM DO COMEÇO

Acordei naquela manhã com um gosto amargo. Não era de fel em minha boca. Era o gosto amargo de conversar, de falar contigo sobre a nossa despedida. Me doeu demais saber que tudo começou de uma forma tão linda, mas terminou. Terminou como um frasco de soro que chega ao seu final, pingando as derradeiras gotas de energia para um corpo doente e acomedido de intensa fadiga. Mas tive que ser forte. Pular da cama, tomar o banho, me vestir, preparar o café e, solitário, me alimentar. O dia estava só começando.

Tirei o carro da garagem e fui para o trabalho. Torcendo para não te encontrar naquele espaço. Teria que demonstrar que meu dia seria realmente um sucesso e que começaria a manhã de forma bem animada. Afinal, entrava no ar às 10 horas da manhã, pontualmente. Sabia que iria te encontrar, mas não queria te encontrar.

Nove horas, vou para o camarim. Troco a minha roupa, vou para a maquiagem dar os últimos retoques, para tirar as olheiras da noite que não dormi, mas que pensei em ti e que imaginei te ter ali, a meu lado.

Tu finalmente chega, com a cara mais cansada ainda. Mais triste e desabada. Deves ter dormido na casa de teus pais, ou então ligou para a primeira amiga de plantão e foi desabafar. Ficou a noite inteira conversando, chorando, colocando todas as mágoas para fora.

Chegas, me dá um simples e doído "oi". Troca a roupa, coloca um traje especial, o qual te deixa mais linda do que de costume. Muda o penteado e segue também para o estúdio.

Lá, apresentamos mais uma edição do programa da manhã. Recebemos entrevistados, mas o sorriso amarelo não nos deixa desfarçar que estamos tristes, arrasados. Fora o fim de tudo. Graças ao correr do tempo, o programa acaba e chega a hora do almoço. Você vem e me chama para almoçar. Educadamente, eu aceito o convite. Você entra no meu carro e vamos.

Fomos para o restaurante que gostávamos de ir, na beira da praia. Ali as ondas batem suavemente. Batem fracamente, suaves e a brisa nos embala, assim como as gaivotas vem para comer os frutos do mar e pedacinhos de conchas, na areia.

Pedimos um vinho branco e comemos um delicioso haddock. Estava dos deuses aquele prato, com um sabor todo especial. Você então pede para ir até a nossa casa, aquela que foi a sua casa, para apanhar algumas roupas e joias. Diz estar ficando na casa de teus pais. Eu aceito te levar até lá, afinal, também ajudaste a pagar aquela casa, trabalhamos muito para isto. Fizemos muitos trabalhos, viajamos, fizemos bicos, tudo para levantar aquela casa, naquele terreno na rua deserta, onde ninguém imaginara se seria incluida em um condomínio fechado. Hoje aquela casa vale muito. Mais vale com a tua presença.

Chegando lá, vai até o quarto. Eu acabo indo junto e você vai direto a cama. Me olha, abre o vestido, ficas em minha frente só de lingerie. Eu também, te olhando, hipnotizado, me livro rapidamente das minhas vestes. Beijos, abraços e carinhos. Começamos a nos entregar de novo. Eu não queria me entregar a ti, de maneira nenhuma. E também sei que tu não querias te entregar a mim, mas aconteceu.

E foi maravilhoso. Fomos ao céu e caminhamos com as estrelas

Você não foi mais embora. Ficou. Tomamos banho em nossa piscina. Ficou, ficamos, juntos, unidos e para sempre. Eu perdoei a tua traição, tu perdoou a minha. Vivemos felizes e ficamos felizes, para sempre, até quando tivesse que ser.

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